Minha História, um pouco mais....

UM MOMENTO COM DEUS...


Era noite... 24 de dezembro de 1994. Por volta das 23 horas,
estava eu no 2º andar do Hospital, com o silêncio. As luzes do corredor central se apagaram ficando apenas as da central de enfermagem. No leito, meu primeiro esposo - companheiro de 17 anos, pai de quatro filhos. Lutava para vencer um câncer no intestino, tumor agressivo que se infiltrara na artéria mesentérica. Eu sabia que a situação não era de bom prognóstico... Uma angústia muito forte, uma dor que me envolvia, misto de medo e desencanto...

Fui até a janela e olhei em volta. Os prédios com suas luzes, famílias reunidas, preparando-se para a troca de presentes. Muitos, sentados em suas fartas mesas, comemorando o aniversário de Jesus entre sorrisos e abraços... Emocionei-me... Pensei nos meus filhos, nos meus pais, todos em casa sozinhos, talvez até já dormindo, sem mim, sem o pai... Como os meus pequeninos poderiam passar por tudo isso...?

Peguei-me chorando... As lágrimas corriam grossas, ali, no silêncio do quarto, na penumbra, na tristeza... Não podia entender por que meu marido estava partindo, lentamente nos deixando. Senti medo. Filha única, não tinha ninguém com quem dividir as decisões, conversar, desabafar... Chorei muito... A noite toda... Lá fora os alaridos diminuíram, as festas terminaram, os prédios caíram também na escuridão.

Então, de repente, senti um vento leve, como uma brisa suave em meu rosto. Nos meus pensamentos surgiu a imagem clara e sorridente de meu filho, meu anjo que já havia partido anos antes. Algo me envolveu como um manto e uma paz muito grande tomou conta de mim. No céu eu percebi a claridade da Lua, linda, perfeitamente harmônica com as estrelas, num lindo cenário. Estava só... Mas Deus me havia enviado a luz da Lua, o brilho das estrelas, a suavidade do vento e a imagem do meu anjo... Entendi que precisava reagir, continuar forte e confiante em minha luta. Muitos dependiam de mim, de minha força, de minha perseverança.

Deus estava em mim, no céu, na Lua, nas estrelas... Ele me ouvia e me ajudava. Senti vontade de ir ao andar térreo, no pronto-socorro. Lá, no meio das emergências vi casos simples, outros graves, alguns fatais... A vida... Uns sendo salvos, outros partindo... Voltei ao quarto. Era Natal. O meu esposo dormia serenamente, ainda que à custa de medicamentos. E eu, senti-me com forças, com esperança, com vontade de ver o novo dia que logo nasceria. Tive, assim, a prova viva de Deus em minha vida.

Deveria preparar o meu esposo para a partida. Dar-lhe carinho, amor, deixar seu coração tranquilo e fazê-lo sentir Paz. Era um homem muito forte espiritualmente - jamais se revoltou. Aceitou a luta contra o câncer, longa luta com cirurgias e muita dor. Estava sempre ao seu lado, éramos uma força dupla. Várias vezes ele me disse que quando partisse eu deveria continuar, que deveria buscar a felicidade novamente e transmitir aos filhos confiança em Deus. Mesmo ciente de que o câncer que ele tinha não era curável, jamais perdeu a Fé. Ensinou-me muito - lutar, continuar mesmo que a dor esteja presente. Faz parte de nossa missão.

Foi um grande guerreiro. Partiu no dia sete de agosto de 1995. Deixou um filho com 15 anos, uma filha com 10 anos, uma filha com 6 anos e uma filha com 2 anos e 8 meses...

Hoje estou novamente casada e sou mãe de mais outros quatro filhos...

Continuei...

A Vida sempre vale a pena... E ele com certeza continua e continuará sempre na Vida Eterna.

O Amor não acaba: apenas se transforma...

4 comentários:

  1. você é exemplo de superação, com certeza tudo de melhor esta reservado para voce tenha certeza!!

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  2. estou encantada com sua história, parabéns.

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  3. Sua vida, seu sofrimento, sua superação e a sua capacidade colocar estas emoções no papel é algo magnifico.
    Eu liguei o computador para tentar me desligar um pouco da dor , da saudade que estou sentindo da minha filha única de 23anos que esta fazendo intercambio na Noruega já faz 4 meses, e ela só volta em agosto de 2014 , converso com ela pelo Skype e quando desligo fico com a sensação que ela esta por perto , sinto muita saudade dela.Ela é minha única filha e me separei quando ela tinha 5 anos, é uma filha maravilhosa.
    Peço perdão a Deus todos os dias por estar triste, por chorar de saudade quando sei que minha filha esta feliz.Me sinto egoísta e ingrata, mas não consigo controlar meus sentimentos.Fico feliz por ela estar conseguindo conquistar o espaço dela, ela é uma pessoa forte, decidida e batalha muito pelo que quer, eu a criei para o mundo, fico feliz que ela esteja tendo tantas conquistas tão jovem, mas mesmo tendo consciência disso não consigo controlar a saudade que é muito grande e doi profundamente.
    Eu não deveria falar em dor nem em saudade com vc, pois você é que conhece o significado destas palavras, me desculpe mas é que não tenho com quem me abrir. As pessoas me culpam por ter sido mãe de corpo e alma, por ter vivido e trabalhado em prol da felicidade da minha filha, eu não me arrependo de nada, faria tudo novamente. Deus me deu uma filha maravilhosa e força para proporcionar a ela uma qualidade de vida que poucos tem.
    Descupe Paula pelo meu egoísmo e obrigada por apesar de ter passado por tanto sofrimento ainda conseguir escrever palavras que acalmaram meu coração.

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  4. Fico impressionada com sua força, a quase 3 meses tb fiquei sem meu "bebê" de 8 anos e a dor é insuportável, tento buscar consolo de todos os lados, mas não encontro.

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