A Partida de Meu Pai...

Era o meu colo...

Era o meu chão...

Era o meu exemplo...

Era o meu Tudo...

Ensinou-me os primeiros passos. Fez-me sorrir, enxugar lágrimas... Cobriu-me de carinho, de um amor suave, protetor, infinito...

Mostrou-me a beleza e pureza de uma criança, da sinceridade, da espontaneidade e toda a sensibilidade que possa existir em um serzinho...

Falou-me de como devia respeitar e ouvir os mais velhos. O cabelos brancos em muito mostra o tanto que o tempo ensinou e deixou como experiências vividas, sentidas...

Ensinou-me a jamais ter preconceitos. Pobres, ricos, negros, brancos, casebres ou mansões... o que importa é o caráter, as atitudes, honestidade...

Sempre me orientava com a calma de quem traz como bagagem a Suprema Sabedoria. Com prazer, sem julgamentos, orientava-me na caminhada pela vida... Muitas noites passou ao meu lado suavizando dores, cobrindo-me com seu manto de amor...

Quantas vezes procurou-me em meu silêncio, fazendo-se presente. Mais que um pai, um Amigo, ajudando-se sem cobrar decisões, ofertando soluções. Mostrava-me o que conhecia de certo e errado lembrando-me de meu livre-arbítrio para escolher o caminho.

Fui uma criança acolhida, amada... Adolescente orientada, acompanhada e sempre, sempre amada...

Meu pai era um exemplo de educação, simplicidade, gentileza, cortesia. Guerreiro, forte, ao mesmo tempo refinado por excelência... Um avô dedicado, carinhoso, ensinava brincando, sempre presente em todos os momentos alegres ou tristes...

Esposo, parceiro, companheiro em uma união de 53 anos, forte e bonita. Sempre venceu os obstáculos porque o Amor sempre prevaleceu...


Pai, que saudade de você! Ver-te partir nessa viagem chamada "morte"... foi um dos momentos mais fortes e angustiantes de minha vida!

Senti como se me faltasse o chão... arrancaram um pedaço de mim - perdi o rumo, fiquei à deriva num mar revolto. Foi em tudo o que ele me ensinou, em tudo o que ele foi, que reencontrei o meu porto seguro...

A vida precisava continuar seu percurso, mesmo que a dor e a saudade fossem grandes obstáculos. Foi necessário superá-los, enfrentá-los.


Pai, você foi e sempre será o meu Amigo, aquele que me ensinou tanto e me fez ser o que sou hoje! Pai, você se foi mas ficou, continua aqui, no nosso amor, vivo, presente e tão amado!

Imagina! A "morte" te levaria de nós!? NÃO! A "morte" só afastou sua presença física, sua imagem de nossos olhos, mas continua em nós, em nossos corações! Você plantou todo esse amor e vai dele colher por toda a Eternidade!!!

Pai, você existe e existirá sempre, porque em tudo ficou um pouco de você... No vôo dos passarinhos, no cuidar dos animais, no Sol que ilumina, na Lua que encanta, nas estrelas que enfeitam as nossas noites, nos sonhos em que nos abraçamos e em suas mãos entrego minhas lágrimas antes de acordar sorrindo pela certeza do seu eterno amor.

Tudo isso prova que a "morte" não é o fim e sim a transformação da convivência e do entendimento. É a certeza de que a Vida sempre vale a pena... Sem revoltas, sem "porques"... Pelo amor que nos envolve e nos leva em direção ao momento do reencontro, na nossa verdadeira Vida Eterna.


Pai! Até qualquer dia, frente a frente novamente! "Adeus"? Jamais! Porque você é o presente eterno que Deus me deu... Amo você! Nós todos amamos você! Para sempre, Pai!




Sobre meu sogro:

Pouco antes de partir, Bolivar chamou-me na UTI e, cautelosamente aguardando que os demais se afastassem, propiciou um dos momentos mais difíceis de minha vida. Com seu olhar um pouco melancólico, gesticulou com firmeza e disse: "Marco! Não quero que vocês se enrolem por minha causa. Nada desse negócio de marca-passo com desfibrilador! Se eu morrer vocês vão ter que se conformar e fim de papo!" Nem uma gota de arrogância houve na fala de meu sogro, mas sim uma profunda preocupação conosco... Até mesmo ali, na UTI, o velho Bolivar mantinha a família à frente de suas preocupações. Só o que pude fazer foi sorrir e garantir-lhe que ninguém faria nenhuma loucura, pois logo ele estaria conosco em casa. Bem, o fato é que está mesmo. Está conosco, em casa, no trabalho, em toda parte. E ele sabe disso!

Marco Aurélio Leite da Silva

Um comentário:

  1. Meu pai já se foi há pouco mais de dois anos. Nao aceito. É difícil. Seu amor está em nós, mas sinto sua falta... Belo texto.

    ResponderExcluir